O aumento no preço dos combustíveis no Brasil gera impacto para produtores rurais que precisam atravessar grandes distâncias para comercializar seus produtos em feiras urbanas.
É o caso da agricultora capixaba Elisete Gabriel Jensen, de Santa Maria de Jetibá, na Região Serrana do Espírito Santo.
Ela destina todos os produtos para as Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa), em Cariacica, na Grande Vitória, onde vende as hortaliças colhidas. O custo dessa operação, porém, aumentou muito nos últimos meses.
Antes da pandemia da Covid-19, os produtos de Elisete e do marido dela, Erildo Jansen, também iam para Nova Venécia, no Norte do ES, o que não acontece mais. A saída para fazer o custo benefício do trabalho valer a pena de novo será encerrar a operação também na Região Metropolitana.
“Tem mais ou menos um ano que a gente está analisando e vendo o que está valendo a pena e o que não está valendo a pena levando em conta o custo de produção para nós. E não está mais valendo a pena. O custo de levar na Ceasa e vender lá está cada vez mais complicado. Os preços [tabelados] agora estão bons, mas quando eles abaixarem de novo, aí que não vai valer mais a pena”, disse a produtora rural.
Um dos custos que mais aumentou foi o do diesel, combustível utilizado nas máquinas agrícolas e para o trajeto até a Ceasa.
Por semana, Elisete e Erildo gastam R$ 1500 com o deslocamento e, por isso, optaram por vender os produtos em centros de distribuição em Santa Maria de Jetibá, que transportam os alimentos para supermercados capixabas.
A estratégia escolhida não é exceção dos dois. De acordo com o representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Egnaldo Andreatta, esta é a saída que muitos agricultores do ES encontram para driblar a alta nos preços dos combustíveis.
“Os supermercadistas e lojistas, de um ano para cá, tem migrado para cá [interior]. Ao invés de ter uma loja na Ceasa, alguns abrem seus CDs [centros de distribuição] aqui. E isso atrai alguns agricultores, porque você não tem o custo de transporte, de dia de trabalho a mais, para deslocamento. E aqui tem os preços semelhantes e com segurança de entregar tantas caixas por semana, por um valor já calculado”, salientou Egnaldo.
Este processo de venda nos centros de distribuição, porém, não é o considerado ideal. O alimento acaba passando por diversas etapas antes de chegar ao consumidor, e a qualidade do produto pode não ser a mesma de quando a venda era feita diretamente pelo agricultor, nas feiras.
O preço para quem compra os produtos também sofre alteração, já que intermediadores da operação precisam ser pagos.
“O coentro, esses dias, vendíamos a 1 real, e no supermercado teve gente, por exemplo, que pagou 5 reais pelo maço”, disse Elisete.
Para Egnaldo Andreatta, o cenário ideal seria que os custos fossem reduzidos para produtores e as feiras urbanas tivessem mais incentivos por parte do poder público.
“Nas feiras, além da parte financeira, que é o dinheiro que vem da mão do consumidor para a o produtor rural, tem o produto fresco da roça indo direto para a mão do consumidor. Isso a gente não vê em nenhum lugar se não nas feiras”, afirmou o representante do sindicato.
Clientes notam esvaziamento
Na feira livre de Gurigica, em Vitória, local que recebe um grande volume de pessoas interessadas nos produtos rurais, o impacto já é sentido pelos clientes.
“Duas três bancas sem ter ninguém. A gente acaba percebendo isso”, afirmou a aposentada Marlene Correia.
A farmacêutica Patrícia Stuhr também não encontra mais o espaço onde comprava mercadorias de uma tradicional feirante do local.
“Senti falta de ver a banca de Dona Aracy. Ela sempre trazia muita planta, verduras e frutas de lá. E agora vemos que eles estão fazendo falta para nós. A feira está diminuindo no número de feirantes. E aí você percebe que tem algo impactando eles”, lamentou Patricia.
G1 ES