Visibilidade: projeto capacita jovens negros e periféricos em TI no ES
Instituto Oportunidade Brasil (IOB) abre caminho para que jovens se profissionalizem e se insiram no mercado de trabalho
Quando olhamos para o mundo, é fácil perceber que há muito para ser mudado. Construir um futuro mais justo passa primeiro por uma palavra: oportunidade. Algo que, muitas vezes, é negado a jovens em condições de vulnerabilidade social.
É neste ponto que entra o trabalho do Instituto Oportunidade Brasil (IOB), que procura preparar jovens negros e de periferia que, normalmente, não teriam acesso a cursos profissionalizantes ou um reforço na educação.
Um dos novos passos dados pelo IOB na busca da qualificação e profissionalização destes jovens, parte do mercado de tecnologia, mais precisamente, o mercado de Tecnologia da Informação (TI) e programação.
Para a diretora-presidente do IOB, Verônica Lopes de Jesus, explica que este é um mercado que tem muito a ganhar com a participação de novos talentos, principalmente, para oportunizar uma maior qualidade de vida para jovens em situação de vulnerabilidade.
Ela explica que o mercado de tecnologia conta hoje com uma defasagem: muita demanda para pouca oferta.
“A demanda por profissionais de tecnologia no mundo é muito maior do que a oferta. A pandemia aumentou ainda mais essa necessidade. No Espírito Santo, temos mais de 800 mil jovens entre 15 e 29 anos, muitos sem qualificação”, informou.
Ainda de acordo com Verônica, a qualificação serve para ajudar a diluir um desequilíbrio histórico no mercado de tecnologia brasileiro, formado majoritariamente por homens brancos. Isso inclui o Espírito Santo.
“Outro ponto importante é a baixa diversidade na área de tecnologia. De acordo com dados da associação das Empresas de Tecnologia Digitais ( Brasscom), hoje o mercado de tecnologia é formado por 75% de homens brancos”,afirma.
Mercado do futuro
O mercado de tecnologia ganha pouco a pouco mais espaço entre os cursos mais cobiçados pelos jovens no Brasil. Afinal, muitas empresas e profissionais, encontram neste segmento a profissão do futuro.
Com o boom das novas tecnologias, levando-se em consideração, inclusive a inteligência artificial, é preciso também formar novos profissionais que saibam domar estes avanços.
Para que bons profissionais sejam formados, é preciso que todos possam competir em pé de igualdade em um mercado desafiador. Para isso, é preciso capacitar jovens periféricos, em especial as mulheres, que ganham destaque no segmento.
Um desafio, de acordo com a diretora-presidente, é que muitos jovens de periferia ainda não têm acesso à computadores ou celulares.
“Ainda hoje, persistem diversos preconceitos nas carreiras relacionadas às ciências exatas. Um desses estereótipos é a crença de que mulheres não possuem bom desempenho nessas áreas. Jovens oriundos de comunidades periféricas também enfrentam esses estigmas. Um dos principais desafios que enfrentamos é demonstrar a esses jovens que eles também têm o potencial para atuar no campo da tecnologia, mesmo que não disponham de acesso a computadores ou celulares”, disse.
Na primeira turma de programação do IOB, um aluno não tinha celular e 90% da classe não contava com um computador em casa. Eram jovens que estavam em contato com a tecnologia, sem saber informática.
“Situações que evidenciam a urgência em promover a inclusão digital e oferecer oportunidades de aprendizado para esses jovens, independentemente de sua origem socioeconômica”, diz a diretora.
Além da programação, os alunos do IOB recebem aulas de reforço de inglês, português e inglês. Há também rodas de saúde mental.
“Nosso foco vai além da simples qualificação técnica desses jovens; buscamos prepará-los integralmente para enfrentar os desafios do mundo profissional”, afirma.
Histórias de sucesso
O IOB fechou o ano de 2023 com 1300 alunos atendidos. Mas desde o início da caminhada, vários sucessos já foram comemorados pela equipe e pelos alunos da instituição.
Há histórias de alunos aprovados na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Outros, já são inclusive instrutores de programação para novos estudantes, inclusive produzindo para outras empresas.
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É o caso de Maylon Viana de Souza, de 18 anos, que fez o curso junto ao IOB e hoje já presta serviços de programação para empresas. Ele entrou para o instituto em 2022 e conta que já estava de olho na área de tecnologia.
Ele passou por um processo seletivo para ver com quais áreas tinha mais afinidade. Ele, que sempre foi chegado aos números, viu na programação um caminho para se tornar um profissional.
Apesar disso, como em qualquer nova experiência, o início foi um pouco desafiador para o jovem.
“Tive algumas dificuldades no início, programação é muito difícil. No início eu errava várias coisas, errava o código todo, era uma doideira. Com o tempo fui pegando o ritmo e hoje estou programando”, contou orgulhoso.
Segundo Maylon, o papel do IOB é fundamental para jovens como ele, que muitas vezes não teriam oportunidade de cursar uma área tão complicada e, principalmente, concorrida.
“Eu não teria acesso, porque esse curso é bem difícil de encontrar, o valor seria bem mais alto, ainda mais para pessoas como eu, de periferia. Essa é uma forma de transformar vidas de crianças e adolescentes”, afirmou
O jovem conta que ainda auxilia em diversos projetos no IOB, não apenas para ajudar outros adolescentes como ele, mas também para se firmar como profissional na área de TI.
Para ele, mais do que uma ajuda, esta é uma ótima oportunidade para enriquecer ainda mais o currículo.
“Na área de programação eu já sou atuante, tenho uma profissão. No início eu achava que seria apenas o curso, mas depois vi que para nós do IOB, isso é um acréscimo, pois não é muito fácil achar programadores”.
Se para quem já é familiarizado com as ciências exatas a programação já é difícil, imaginem para quem não é lá muito chegado aos números. Letícia Vitória de França Vasconcellos, de 17 anos, precisou se desdobrar para aprender a profissão.
Ela também entrou no curso em 2022 e confessa que precisou se desdobrar para dar conta do recado, mas não nega que gosta de se desafiar, o que a levou a se dedicar por completo ao curso.
“Antes do curso eu não tinha nenhum contato com a programação, foi uma tarefa muito desafiadora. Me encontrei em diversos campos em que precisava me desafiar, com o tempo fui desenvolvendo habilidades. Sempre fui da área da linguagem, quando entrei e vi todos aqueles números, foi assustador, mas fui me moldando”, conta.
Assim como Maylon, Letícia também afirma que não teria a oportunidade de se aventurar pelo TI se não fosse o IOB, e que o curso surgiu em sua vida para mudar totalmente suas perspectivas.
“Eu não teria nenhum contato se não fosse o instituto, ele surgiu na minha vida para mudar completamente tudo o que eu pensava sobre expectativa de vida, perspectivas de vida, profissional, além de possibilidades e oportunidades”.
Para a jovem, agora não há limitações para o futuro. Ela conta com o apoio da família, principalmente da mãe, além de caminhar pelo mercado profissional em tecnologia.
Segundo ela, o momento é de esperar o que virá de bom pela frente com a nova profissão.
“Eu estou muito empolgada, tenho muitas expectativas, porque o mercado oferece muitas oportunidades”.
Parceria para visibilizar
O Instituto Americo Buaiz (IAB) é parceiro do IOB e atua na linha de frente para dar visibilidade aos projetos disponibilizados pela fundação. Aliás, esta palavra, visibilidade, é o ponto principal da parceria.
De acordo com a gerente executiva do IAB, Paula Martins, a importância da parceria é justamente o recorte específico do trabalho realizado pelo IOB, focado em oportunizar carreiras a jovens negros e de periferia.
“O Instituto Oportunidade Brasil trabalha com um recorte muito específico da sociedade, que são jovens negros e periféricos. Nós acreditamos em inclusão produtiva, para que possamos fomentar tanto o mercado, quanto o nível de escolaridade, acreditamos na educação, neste caso pautada na profissionalização. Enxergamos no IOB uma ferramenta de transformação social”, disse.