Uma mulher de 38 anos e dois homens, um de 32 e outro 36 anos, foram presos, na última segunda-feira (18), em um hotel da Grande Vitória por policiais civis da Delegacia Especializada de Falsificações e Defraudações (Defa).
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Eles são suspeitos de integrar organização criminosa que aplicava o golpe do bilhete premiado em várias partes do país.
De acordo com a Polícia Civil, as vítimas do grupo eram pessoas mais velhas. No Espírito Santo , o prejuízo passa de R$ 1 milhão, segundo as investigações.
“Ele preferem idosos, que são mais fáceis de convencer e o prejuízo aqui no Espírito Santo gira na ordem de 1 milhão de reais”, disse o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda.
Com o trio foram encontrados um “kit bilhete premiado” com vários envelopes, blocos de notas promissórias, cartões de plástico parecidos com os de crédito, lacres, uma bolsa malote, borrachinhas de dinheiro e dois falsos bilhetes premiados de concursos de 2022.
Investigação
De acordo com o titular da Defa, delegado Douglas Vieira, a investigação teve início em novembro do ano passado e, até o momento, foram identificadas seis vítimas.
Os valores retirados das vítimas ainda não foram recuperados porque, de acordo com o delegado, os estelionatários costumam gastar o dinheiro.
“O estelionatário não é como o cidadão de bem, que faz suas economias e guarda dinheiro em banco. Ele tem a cultura de que ele sabe ganhar dinheiro fácil. Então, ele gasta com supérfluos, viagens caras, restaurantes, roupas de marca e geralmente há muitos envolvidos, então o dinheiro é pulverizado. Eles não investem, não compram imóveis. É meramente pra gastar”, disse o delegado.
Golpe envolve pelo menos 5 pessoas
O delegado Douglas Vieira detalhou como funciona o golpe do bilhete premiado. Segundo ele, a ação envolve no mínimo cinco pessoas.
A primeira é o olheiro fixo, que fica perto de agências bancárias observando e seguindo pessoas mais velhas. Normalmente ele anda de moto e verifica onde a pessoa mora, a capacidade econômica dela e também observa a sua rotina.
“Muitas vezes, esse idoso vai fazer alguma caminhada perto de sua residência e é abordado por esse indivíduo. Ele pede alguma informação. O objeto da abordagem é verificar se o idoso é receptivo a conversar com estranho. Evitem dar conversa para estranhos. Estelionatários são bem vestidos, simpáticos e transmitem credibilidade. Eles são dissimulados, muito convincentes, choram, tudo para iludir a vítima”, contou o delegado.
O segundo criminoso é o olheiro do dia do golpe, que fica perto do local onde a vítima será abordada e fica observando se ela está acompanhada de algum familiar ou se há policiais ou guardas por perto.
O terceiro é o que tem o bilhete premiado. De acordo com a polícia, ele finge que está com dificuldade, fala que está perdido, não conhece a localidade e solicita informação ao seu alvo.
O quarto criminoso, de acordo com a polícia, é o que se aproxima para ajudar o suposto ganhador.
“Ele [terceiro criminoso] menciona, eu ganhei na loteria porém não posso retirar o prêmio porque sou de uma região que não permite mas eu preciso de uma quantia para arcar com uma despesa médica ou usa alguma outra desculpa”, explicou.
O quarto criminoso se oferece para arcar com metade do valor e convida o alvo para fornecer o restante.
“Ele faz um depósito falso, mostra para a vítima e diz que ele cumpriu a parte dele e ela tem que cumprir com a parte dela. Ela acredita nisso, vê o bilhete. Eles têm reportagens constando o número premiado e o bilhete falsificado, tudo para dar credibilidade ao golpe. Eles tem um envelope e colocam um cartão em branco com orientação para o saque do prêmio. Convencida disso, a vítima faz a transferência”, disse o delegado.
O quinto criminoso é o que se passa por funcionário da Caixa Econômica Federal. Ele atende o golpista que está com o bilhete e diz que o horário para o saque é no dia seguinte, a partir das 11h.
“Os criminosos fazem a vítima assinar uma promissória de metade do valor do prêmio para ela honrar o compromisso de pagar metade do valor do prêmio da loteria e falam com ela para não comentar com ninguém, principalmente com familiares, porque pode ser sequestrada no caminho para o banco. No dia seguinte, ela vai até a agência e descobre ter sido vítima do golpe”, contou.
O delegado explicou que os criminosos costumam falar que o saque deve ser feito no dia seguinte para dar tempo de fugirem.
“Eles se hospedam um dia antes no hotel, no dia seguinte aplicam o golpe e fogem. Quando a vítima persegue que levou um golpe, aciona a polícia e eles já estão longe em outros estados. Falou em bilhete premiado, acione imediatamente o policial mais próximo ou ligue para o 190 porque trata-se de golpistas”, orientou o delegado.
A pena para os crimes de estelionato e formação de organização criminosa pode chegar a 18 anos de prisão.
G1 ES