Após fila de 12 horas em hospital, governo do ES diz que vai implantar consulta e agendamento pelo telefone
O secretário de Saúde do Espírito Santo, Miguel Paulo Duarte, disse, nesta quarta-feira (8), que a partir da próxima semana as famílias de crianças atendidas no Hospital Infantil de Vila Velha não vão mais precisar enfrentar fila porque o agendamento será feito por telefone. Também serão oferecidas teleconsultas. A medida foi anunciada após pais enfrentarem mais de 12 horas de espera e passaram a noite sem dormir em busca de médico especialista para os filhos, principalmente neuropediatra, no Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, na Grande Vitória.
Matérias Relacionados
Inicialmente serão oferecidos 300 atendimentos presenciais e 600 por teleconsulta. A previsão é que o telefone para agendamento seja divulgado nos próximos dias.
“Nós vamos disponibilizar este número em uma central, em um call center, em que toda a disponibilidade de agenda pode ser feita por telefone. Nós vamos ter duas salas disponíveis pra essa teleconsulta. A tendência é que nós não tenhamos mais dificuldade na obtenção da consulta de neuropediatria, uma especialidade extremamente difícil nacionalmente”, disse o secretário.
O secretário disse ainda que quatro linhas telefônicas estão sendo adaptadas para oferecer o serviço.
Duarte falou também que pacientes que moram no interior do estado ou que já tem acesso ao tratamento no Himaba e precisam de acompanhamento terão preferência no agendamento das teleconsultas.
Promessa de ampliação
No último dia 8 de fevereiro, o secretário Estadual de Saúde, Miguel Paulo Duarte, disse que o estado vai ampliar de 300 para 1.500 por mês a quantidade de consultas para famílias buscam atendimento com neurologistas e psiquiatras.
A promessa de ampliação foi feita horas depois de centenas de familiares de crianças, a maioria com autismo ou déficit de atenção, enfrentaram fila e até dormiram no chão para tentar marcar consulta com neurologista, psiquiatra e outros especialistas para os filhos na rede pública de saúde do Espírito Santo.
“O que nós estamos fazendo de imediato, para resolver a situação, é aumentar o número de consultas no Himaba de 300 para 900 consultas, isso deve ocorrer em um prazo máximo de 60 dias. E nós estamos fazendo também uma licitação para o Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, buscando uma oferta de mais 600 consultas por mês. Nós passaríamos das atuais 300 consultas por mês para 1.500 consultas por mês”, disse o secretário na ocasião.
Nesta quarta-feira, o secretário também falou sobre a dificuldade que o estado tem enfrentado de contratar neuropediatras.
“A gente buscou profissionais tanto no mercado local quanto também profissionais de outros estados e a colocação do nosso pregão eletrônico mostra a dificuldade que nós temos na obtenção. Ainda não posso confirmar, mas a empresa que está em primeiro lugar no edital lançado pelo Hospital infantil de Vitória é de fora do estado. Então logo a comissão vai ou não validar toda a documentação, mas a grande dificuldade é o profissional médico e o aumento no volume [da demanda]”, informou o secretário.
Famílias dormiram na fila para tentar marcar consulta nesta terça-feira (7)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/5/K/SwnJcoSqGpZNdSQ1Mpig/familias-himaba-bdes-08-03-2023.mp4-snapshot-00.50.917.jpg)
Famílias passaram a noite na recepção do Himaba, em Vila Velha, ES, para tentar marcar consulta para os filhos — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Mesmo com o horário de atendimento no Himaba iniciado normalmemte às 7h, alguns pais dormiram na recepção da unidade de terça para quarta para tentar marcar consulta. Isso porque, de acordo com as famílias, chegar de madrugada não é garantia de agendamento da consulta com o médico especialista.
A porteira Sandra Maria Campos levou lanche e água para passar a noite no local.
“A cadeira que a gente senta não é confortável. Tem que trazer comida, água, café, roupa de cama pra dormir se for possível. Se estiver frio, pior ainda. Se estiver calor, ainda ameniza, mas é necessário. Nossos filhos precisam”, contou Sandra.
Já de manhã, a doméstica Rosimeire Gomes Teixeira contou que precisou passar maisu ma noite em claro para agendar a consulta para a filha.
“Saí de Cariacica, cheguei ontem 21h e vim marcar um neuropediatra pra minha filha Rebeca. Ela tem epilepsia e é cadeirante”, contou Rosimeire.
A consulta que está atrasada há mais de um ano ainda vai demorar. Ao final, ela conseguiu agendar a consulta só para o dia 23 de junho.
O agricultor Valdilino Neimog viajou 130 quilômetros e também passou a noite no Himaba. Ele só conseguiu agendar o retorno para o sobrinho com um neuropediatra para o final de junho.
Ao contrário de outras vezes, nesta quarta, foram disponibilizadas cadeiras para as famílias aguardarem atendimento.
Multidão enfrentou fila no início de fevereiro
Pais enfrentaram fila e até dormiram no chão para marcar consulta com especialista para filhos no Himaba, no início de fevereiro
Em fevereiro, uma multidão de pais enfrentou longas horas de espera no Himaba para tentar marcar consulta com especialista para os filhos, a maioria com autismo.
Uma mãe chegou a dormir no chão.
“Tive que botar eles pra dormir no chão embaixo da cadeira, perto dos cachorros. Só consegui agendar para o dia 2 de junho. Falta de respeito com a gente”, disse a dona de casa Janaína Silveira na ocasião.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/B/B/ldJGEmQ5yetDFBTfO9Jg/espera-himaba-08-02-2023.mp4-snapshot-00.59.085.jpg)
Pacientes dormiram no chão à espera por consulta com especialista no ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Com a repercussão da dificuldade enfrentada pelos pais, o Governo do estadual reconheceu a alta demanda e prometeu que ia aumentar o número de senhas de 300 para 900 por mês, porém, quem estava na fila na noite desta terça-feira (7) e precisa de especialista para o filho diz que nada mudou.
“Todo mês é isso. A gente vem, passa a noite aqui, consulta e volta de novo três meses depois. Passa a noite todinha e só sai daqui 10h, 11h da manhã. Passa frio, fome, perigo que não tem segurança aqui e entrega nas mãos de Deus”, disse a dona de casa Daiane Santos.
G1 ES